Luzia Caetano da Silva é cidadã brejo-santense e formada em serviço social pela UFCG (Universidade Federal de Campina Grande) - Campus Sousa/PB.

CONFIRA A ENTREVISTA:

- Por que você escolheu a área social para atuar?

RESPOSTA: Optei pelo curso de serviço social pelo fato de me identificar com os diversos campos de atuação profissional do(a) assistente social... Como exemplos temos a educação, saúde, assistência social, entre outros.

No seu ponto de vista, quais são os problemas que mais afetam, no meio social, os deficientes visuais?

RESPOSTA: No meu ponto de vista, a pessoa com deficiência visual ainda se depara com diversas barreiras em seu cotidiano, pelo fato da sociedade não está devidamente preparada para lidar com esse segmento.

A sociedade precisa entender que a deficiência visual não é sinônimo de incapacidade e sim uma característica, e que cada um têm suas particularidades. Por isso é importante procurar mais informações a respeito da deficiência visual, pois, dependendo da pessoa com deficiência visual, as necessidades podem ser diferentes.

Além disso, nos deparamos com as barreiras comunicacionais, físicas, arquitetônicas, atitudinais, entre outras:

No que se refere as "barreiras comunicacionais", na maioria das vezes percebemos que as pessoas têm dificuldade de se comunicar com deficientes visuais: não sabem como guiar e nem como atender essas pessoas na maioria dos espaços ocupacionais.

No que se refere as "barreiras físicas e arquitetônicas", percebemos que as cidades não são bem planejadas para atender as necessidades da maioria da população. Digo isso porque, na maioria das vezes, a gente encontra dificuldades para chegarmos em locais, porém, isso não é pelo fato da deficiência visual, mas sim pela falta de acessibilidade nas calçadas, escolas, hospitais, estabelecimentos (comerciais ou não), praças, parques, entre outros.

Já no que se diz repeito as "barreiras atitudinais", são aquelas geradas intencionalmente ou não, mas acabam se tornando um impedimento para as pessoas com deficiência, ou até mesmo para com as pessoas ditas "normais".

Por fim, a gente precisa de condição e equiparação de igualdade, para que possamos desenvolver nossas habilidades com mais autonomia.

- Sabemos que você é uma guerreira, pois não é qualquer pessoa com deficiência visual que demonstra coragem para enfrentar uma faculdade. Com isso, quais foram os seus "desafios" ao entrar na faculdade e como você venceu todos eles?

RESPOSTA: Quando ingressei no curso de serviço social em 27 de maio de 2013 na UFCG - Campus Sousa/PB, me deparei com diversas barreiras pelo fato de ser a primeira pessoa com deficiência visual autodeclarada a ingressar na referida instituição. Perante essas barreiras, a minha principal e maior dificuldade foi a permanência até a conclusão do curso. Dentre as dificuldades posso citar: falta de capacitação para os professores lecionarem para pessoas com deficiência visual, falta de textos digitalizados em formato acessível para leitura com sintetizador de voz no computador e falta de recursos de tecnologia assistiva para pessoas com deficiência visual. Para além disso, as "barreiras físicas e arquitetônicas" que acabaram dificultando o deslocamento no Campus.

Diante das dificuldades supra citadas, tive que buscar na legislação quais seriam os meus direitos enquanto pessoa com deficiência visual. Tendo feito isso, entrei com um requerimento para que a instituição disponibilizasse os recursos de acessibilidade conforme as minha necessidades educacionais.

Ademais, contei com o apoio de colegas, amigos e familiares, que foram de suma importância para que eu pudesse chegar até a conclusão do curso.

- Em sua cidade (ou seja, Brejo dos Santos), é explícito afirmar que existe acessibilidade fácil, em locais públicos, para pessoas com deficiência visual?

RESPOSTA: Antes de responder, eu gostaria de esclarecer que a "acessibilidade" é um direito tanto das pessoas com deficiência em geral quanto das pessoas ditas "normais", inclusive da criança, da gestante, da pessoa idosa, entre outras. Além disso, ressalto que a mesma não se limita a uma rampa de acesso ou a um corrimão, ela é bem mais que isso! A acessibilidade é a liberdade de ir e vir com autonomia e frequentar os mais diversos lugares com segurança. Além disso, acessibilidade é poder andar pelas calçadas planejadas para pedestres cadeirantes, "bengalistas" e pessoas com mobilidade reduzida. Ainda na mesma, podemos atribuir que é poder caminhar pelas ruas e calçadas sem dar de cara com um "orelhão" ou até mesmo com uma placa colocada de forma errada. Podemos acrescentar que ela também é ser bem atendido ao chegar em uma loja, no supermercado, no hospital, na escola, etc., e sentir a vontade de voltar naquele local.

Partindo do pressuposto, ressalto que a falta de acessibilidade é uma problemática de muitas cidades brasileiras, incluindo os grandes Centros.

No tocante ao arcabouço legal, somos privilegiados. Todavia, quando se trata do cumprimento da legislação, a realidade é outra.

No caso de Brejo dos Santos/PB, a acessibilidade, de modo geral, caminha lentamente. Contudo, é possível afirmar que alguns espaços públicos tem feito adaptações razoáveis.

No meu ponto de vista, umas das maiores dificuldades enfrentadas pelos brejo-santenses são as calçadas: é necessário lembrar que as mesmas são feitas para o pedestre caminhar, só que muitas vezes se torna inviável, tanto pelos obstáculos fixos como pelos pisos irregulares.

Ademais, quero salientar que ainda precisamos avançar bastante no quesito "acessibilidade".

Para concluir, quero agradecer pelo convite e me coloco à disposição dos leitores para quaisquer questionamentos. E lembrando que acessibilidade é um direito de todos(as), por isso é importante a gente pesquisar mais sobre o referido tema.

- Em sua opinião, em Brejo dos Santos existe igualdade social?

RESPOSTA: No que se refere à igualdade social, a gente precisar tomar bastante cuidado ao debater sobre o tema desse modo. Quero deixar claro que não é a minha intenção "esgotar" sobre o mesmo nessa breve entrevista. Porém, quando se trata dessa problemática, é possível perceber que não se limita apenas em Brejo dos Santos/PB... Em outras palavras, a não igualdade social é mundial, e isso não é apenas uma opinião, pois temos estudos que comprovam. Portando, na minha opinião, a não igualdade social perpassa a sociedade historicamente.
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