Jordânia Dantas é estudante de Letras pela Universidade Estadual da Paraíba - Campus IV, em Catolé do Rocha/PB. Natural de Jardim de Piranhas, no Rio Grande do Norte, Jordânia recentemente foi aprovada para um intercâmbio, onde estudará uma temporada na faculdade de Coimbra, em Portugal.

1- Vamos começar falando sobre sua faculdade: sabemos que você é estudante de Letras pela UEPB - Campus IV. Neste sentido, por que você decidiu optar pelo referido curso?

Na verdade, eu sempre quis Letras. Sempre fui apaixonada pelas palavras e por tudo que elas significam - sobretudo neste mundo literário. Mas esse desejo não surgiu do nada... Foi a partir do 9º/1º ano do Ensino Médio foi que eu pude realmente ter certeza de que a minha escolha seria o curso de Letras - Língua Portuguesa; e isso se deu pela influência de dois professores na minha caminhada estudantil: Francinaldo e Lucia. Eu pude aprender com eles o quanto o universo das letras é vasto, e que este curso não se resumia a aprender gramática. Durante a fase da vida escolar, eu sempre estava envolvida durante os trabalhos propostos pelos referidos professores, e eles nunca deixaram de acreditar e plantar no meu coração a certeza de que eu poderia crescer muito ingressando neste curso, apesar dos desafios que encontramos na educação brasileira. No entanto, eu acredito muito no legado de Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” Eu considero, indiscutivelmente, que a educação pode mudar as pessoas, porque tudo que já conquistei é fruto de uma gama de pessoas envolvidas na educação (formal e informal). 

2- Em suas redes sociais, vemos uma grande militância da sua pessoa no que se refere a questões sociais. Com isso, pra você, o que é o feminismo e quais os seus pontos positivos?

Desde que eu conheci o que era o feminismo, minha forma de olhar o mundo mudou completamente. No fundo, eu sempre fui feminista, mas não sabia ainda o que isso significava – até um tempo atrás. Desde cedo eu questionava o porquê de termos papéis tão hierárquicos na sociedade, em que a figura masculina era destinada algumas tarefas, enquanto a feminina outras. Mais ainda, “por que as mulheres eram julgadas por fazer a mesma coisa que um homem fazia...” os questionamentos expandiam-se à minha mente. E eu continuava a pensar em como a figura feminina, “o ser mulher” estaria pautado na submissão, estando sempre reservada à condição de “segundo sexo”, como a revolucionária Beauvoir disse há 60 anos. Eu sempre observava o meu pai indo trabalhar e a minha mãe sendo destinada toda a tarefa do lar e dos filhos. Achava injusto eu ter que ajudar nas tarefas de casa e o meu irmão poder sair para brincar ou até ficar assistindo TV. Eu me perguntava por que as mulheres eram submetidas aquilo tudo, se todos os seres humanos deveriam ser “iguais” (abro as aspas porque sei que apesar dos seres humanos serem iguais em direitos formais, isso não acontece na esfera social). Os questionamentos sobre o feminismo puderam ser sanados quando eu entrei na faculdade e conheci a professora Mauriene (uma grande ativista, feminista...). Com os momentos de discussões vividos em sala, fui cada vez me interessando mais pelo assunto e me aprofundando na temática, até que consegui um projeto com a professora nesta perspectiva. É importante ressaltar o nome de outras feministas (Thayna, Maria Clara...) que contribuíram com a minha evolução. Com isso, vejo que sou resultado de uma pessoa que amadureceu e tem aprendido a cada dia sobre o que são o(s) feminismo(s). Para mim, feminismo vai além da luta pela igualdade que nunca existiu, é o desejo pela equidade de adaptar às oportunidades deixando-as justas, de modo que as violências das quais nos constituem e norteiam, possam deixar de fazer parte da nossa realidade. Além disso, esse movimento busca o empoderamento feminino, o direito à vida das mulheres (sim! Pois o Brasil está no ranking dos países onde mais se matam mulheres pela condição do seu sexo) e o direito à liberdade das escolhas femininas. Além de tudo, ele contribui para que a mulher viva uma CONDIÇÃO DIGNA de cidadã, deixando de ser julgada para ser respeitada – como qualquer ser humano teoricamente deveria ser. 

3- Você como cristã, encontra alguma dificuldade (no âmbito social) em ser uma opositora ao Governo de Bolsonaro? Se sim, comente.

Sempre há aqueles que se fazem de cristãos e nos classificam como comunistas por não compactuar com um ideário político de opressão. Penso que Bolsonaro seja uma pessoa que é uma afonta para quem realmente segue os ensinamentos de Cristo. Acredito que existe uma contradição em quem apoia Bolsonaro e simpatiza com os ideais de Jesus. O Cristo que eu acredito está do lado dos menos favorecidos economicamente e dos mais vulneráveis socialmente. Jesus foi um revolucionário, e foi crucificado justamente por ir contra o sistema. Ele não era opressor, e muito menos se constituía de uma ameaça para os desemparados. Em contrapartida, Bolsonaro representa tudo isso. Isso me assusta... O fato de alguns cristãos terem Bolsonaro como referência de um seguidor de Cristo. Fica a questão: se Jesus voltasse hoje, será que ele não seria crucificado novamente?”

4- Como você classifica o atual governo do presidente Jair Bolsonaro? Por quê?

O (des) governo de Bolsonaro está sendo justamente o que eu imaginei que seria: uma ameaça à democracia; além de uma palhaçada, é claro. Uma presidente que não está disposto a ouvir e dialogar com a população, de maneira pacífica, não está fazendo jus ao seu cargo. Bolsonaro, enquanto presidente, faz justamente o contrário: se esconde atrás de uma rede social para xingar/bloquear aqueles que fazem crítica ao seu governo. Ele ainda não entendeu que o cargo dele não envolve uma esfera privada, mas uma administração para todo um aglomerado de pessoas. Além de tudo, o desmonte que é chamado de “contingenciamento” por ele, vem trazendo grandes consequências e representando uma ameaça para as universidades públicas continuarem funcionando. E acho que a proposta do governo dele é justamente essa; dar uma volta no tempo em que só as pessoas privilegiadas economicamente tinham acesso à educação. 

5- Voltando à faculdade: você foi aprovada para participar de um intercâmbio, onde irá passar um período na faculdade de Coimbra, em Portugal. Quais são as suas expectativas para o intercâmbio? Sua família aprova a sua ida?

As minhas expectativas para o intercâmbio são as melhores! Espero que eu possa crescer muito no âmbito pessoal e acadêmico, e que acima de tudo, eu possa influenciar outras pessoas a fazerem o mesmo. Meu desejo é voltar para o campus e compartilhar minhas vivências com outras pessoas, de modo que elas também possam conseguir o intercâmbio. Eu sei que será um período de muito amadurecimento, e que todos sonham passar por uma experiência assim. Me orgulho muito por ter sido contemplada e poder representar uma instituição de pessoas tão acolhedoras como é a UEPB - CAMPUS IV. Minha família, sobretudo meus pais, ficaram muito felizes com a notícia, por saber que agora alcançarei voos mais altos, e principalmente por estar fazendo o que gosto e me sinto feliz. Eles sempre me apoiam na realização dos meus sonhos, apesar das dificuldades. E claro, sonham comigo, pois sabem que é uma conquista nossa.
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