O assassinato a tiros do prefeito Marcelo Oliveira (União Brasil) e do pai ele, Sandi Oliveira, no município de João Dias, na última terça-feira (27), mobilizou forças de segurança do Rio Grande do Norte, responsáveis pela investigação do crime, e a Justiça Eleitoral, que garantiu que as eleições serão mantidas para o dia 6 de outubro.

Até a manhã desta quinta-feira (29), a polícia já havia confirmado a prisão de 14 pessoas: quatro suspeitos de envolvimento do duplo assassinato e outras 10 pessoas ligadas a um suposto plano de vingança.

“Evitamos um derramamento de sangue na cidade. O grupo (de 10 pessoas), muito provavelmente, tentaria se vingar da morte do prefeito”, afirmou o delegado Alex Wagner, diretor da Divisão de Polícia Civil do Oeste, responsável pela investigação.

A polícia ainda não confirmou qual seria a motivação do crime. Questionado se poderia ter relação com a disputa política, o delegado Alex Wagner afirmou que nenhuma linha de investigação estava descartada.

João Dias é o terceiro menor município do Rio Grande do Norte, com pouco mais de 2 mil habitantes, segundo o IBGE. Ainda de acordo com o instituto, a cidade localizada na região do Alto Oeste, na divisa com a Paraíba, contava com apenas 294 pessoas ocupadas em 2022, com rendimento médio de 1,5 salário mínimo.

Veja o que se sabe e o que falta saber sobre o assassinato do prefeito de João Dias

1. Como foi o crime?
2. Quem são as vítimas?
3. Qual é a motivação do assassinato?
4. Quantas pessoas foram presas e quem são?
5. Como fica a prefeitura de João Dias?
6. As eleições estão mantidas na cidade?

1. Como foi o crime?

Marcelo Oliveira (União Brasil) era candidato à reeleição e, junto do pai, visitava casas de apoiadores no fim da manhã de terça-feira (27), por volta das 11h, no conjunto São Geraldo, em João Dias. Segundo a polícia, cerca de oito criminosos distribuídos em dois veículos chegaram repentinamente ao local e atiraram contra os dois. Um segurança do gestor também foi baleado.

O pai do prefeito morreu na hora. Marcelo chegou a ser socorrido e deu entrada com vida em um hospital de Catolé do Rocha, na Paraíba, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo a polícia, ele foi atingido por 11 disparos de arma de fogo.

Segundo a polícia, o segurança do prefeito foi levado para o Hospital Regional de Pau dos Ferros, mas o estado de saúde dele não foi informado.

Várias marcas de tiros ficaram nas paredes das casas na rua onde o crime aconteceu. Em apenas um dos imóveis, nove marcas podem ser vistas no muro. No local, moradores não quiseram falar com a imprensa, com medo.

2. Quem são as vítimas?

Embora fosse conhecido como Marcelo, o nome do prefeito era Francisco Damião de Oliveira. Ele tinha 38 anos, era casado e prefeito da cidade em primeiro mandato. Ele tentava a reeleição ao cargo nas eleições de 2024 pelo partido União Brasil.

Eleito pela primeira vez em 2020, Marcelo renunciou ao mandato em julho de 2021, mas voltou à Prefeitura em outubro de 2022, depois que alegou na Justiça que tinha sido coagido a abrir mão do cargo sob ameaças da família da sua então vice-prefeita, Damária Jácome.

Marcelo já tinha uma carreira política no município. Ele foi eleito vereador pelo município em 2008 e 2012 e foi candidato a prefeito pela primeira vez em 2016, mas não conseguiu se eleger naquela ocasião.

Pai de Marcelo, Sandi Alves de Oliveira, de 58 anos, também já tinha sido vereador do município e era apontado pelo filho como sua inspiração na política.

"Meu pai é meu braço direito. Todas as decisões primeiro eu tenho que consultar o meu pai. Se ele falar que sim, a gente segue em frente. Se ele falar que não, a gente tem que obedecer a ele, que é um conselheiro, um pai, um amigo, sempre está junto da gente e da nossa família", disse o prefeito assassinado em um no vídeo publicado no dia dos pais, em 11 de agosto.

3. Qual é a motivação do assassinato?

A Polícia Civil não divulgou até a última atualização desta reportagem qual seria a motivação do crime, nem seus idealizadores. Questionado se o assassinato do prefeito e seu pai poderia ter sido motivado pela disputa política, o delegado Alex Wagner, da Divipoe, não descartou a possibilidade, mas afirmou que nenhuma linha de investigação será ignorada nas investigações.

4. Quantas pessoas foram presas e quem são?

Segundo a polícia, pelo menos 14 pessoas foram presas desde o início das investigações. Quatro são suspeitos da morte do prefeito e 10 estariam ligados a um suposto plano de vingança pela morte do prefeito.

Dois suspeitos de envolvimento no assassinato do prefeito foram presos durante buscas na zona rural de Antonio Martins, na noite de terça-feira (27). Uma arma de fogo e munições foram encontradas no veículo onde eles estavam.

Os presos são um taxista, que dirigia o veículo, e outro homem suspeito de estar ligado diretamente na morte do prefeito. Outros dois suspeitos que também estavam no carro no momento da abordagem conseguiram fugir ao entrar em uma área de mata.

Na noite da quarta-feira (28) a Polícia Militar anunciou a prisão de mais um suspeito em Antonio Martins, portando uma arma de fogo. Segundo a PM, também havia um mandado de prisão contra ele, mas a corporação não informou se o mandado é relacionado ao crime ou a outro.

O quarto suspeito foi encontrado e preso na manhã desta quinta (29), também por policiais militares. Ele foi preso em uma van de transporte de passageiros, em uma estrada entre Pilões e Alexandria.

As identidades dos presos não foram divulgadas.

A prisão das outras 10 pessoas aconteceu no fim da tarde de terça (27) em João Dias. Entre elas, três policiais militares (dois do Rio Grande do Norte e um do Ceará), além de um dos irmãos de Marcelo Oliveira. O grupo estava em dois carros e foi flagrado com 13 armas de fogo, inclusive fuzis. A polícia acredita que eles buscavam vingar a morte do prefeito e do pai dele.

5. Como fica a prefeitura de João Dias?

O presidente da Câmara de Vereadores de João Dias, Jessé Oliveira, é quem deve assumir o cargo de prefeito da cidade após o assassinato do então gestor Marcelo Oliveira, irmão dele.

Segundo o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte (TRE-RN), Cornélio Alves, o motivo para o presidente da Câmara assumir é que a vice-prefeita eleita em 2020, Damária Jácome, está impedida judicialmente de executar a função.

"Na falta do prefeito, quem substitui é a vice, e depois o presidente da Câmara. Isso é o que sempre a Lei Orgânica do Município prevê. E acho que lá não é diferente. Me parece que a vice-prefeita está impedida por decisão judicial, então passaria para o presidente da Câmara", explicou.

O mandato é tampão até o fim de 2024, já em que em janeiro de 2025 o vencedor das eleições municipais deste ano assume.

6. As eleições estão mantidas na cidade?

O presidente do TRE, desembargador Cornélio Alves, descartou a possibilidade de adiamento das eleições em João Dias e afirmou que o juiz eleitoral da região solicitou reforço de forças de segurança federais para as eleições no município. Segundo Cornélio Alves, na eleição passada, isso já havia ocorrido na cidade de João Dias.

"Para lá deve ser deferido o reforço da força federal. Eu conversei até com o juiz, ele disse que para cidades vizinhas não precisa, que com a PM resolve, mas que pra João Dias é necessário colocar a força federal lá para que o eleitor possa votar no dia da eleição", disse.

"Aconteceu um homicídio, a situação preocupa, e é preciso a gente dar segurança para o eleitor, para que no dia da eleição, ele vote livremente, não tenha medo de comparecer e votar", disse.

O presidente do TRE-RN lamentou que o início do processo eleitoral no estado tenha sido marcado por um homicídio e disse que uma das candidatas a prefeitura pediu auxílio da polícia para deixar a cidade devido ao cenário na cidade.

g1 RN
Foto: Reprodução/Instagram 
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